segunda-feira, 15 de julho de 2013

Capítulo 8 - A manhã de Sol

  A manhã de Sol
Abriu os olhos. Sentia uma profunda dor de cabeça, como que se uma broca tivesse passado por dentro dela. Virou-se na cama e percebeu que estava sem roupas. Sua esposa não estava ao seu lado e o quarto estava escuro, com as cortinas fechadas, presumiu. Estava em imensa preguiça e não queria levantar-se da cama, mas precisava, tinha compromissos mágicos e terrenos a cumprir. Às vezes Sol gostaria de tirar umas férias de seus deveres superiores como Ser de Poder, era um preguiçoso que não havia outro igual. Mas a continuação da vida terrestre precisava de sua contribuição.

Rolou novamente na cama, como um cachorrinho faz em seu balaio de dormir. Chega! Precisava vencer aquela moleza mesmo. Sentou-se na beirada da cama e enrolou-se em um lençol branco que estava jogado ao chão, bem ao lado da enorme cama. Ansiava por um banho quente. A água do banho de Sol era muito quente e os empregados achavam isso estranho, pois a temperatura que exigia era capaz de derreter a pele de qualquer um. Ele gostava. Estava acostumado com as altas temperatura, era o Sol.

Caminhou pelo quarto, sentiu cheiro de comida. O cômodo estava todo bem organizado, exceto o leito, é claro, com os travesseiros de pena todos espalhados entre lençóis e cobertores. O quarto possuía forma quadrada, a maioria das paredes  era toda revestida por cortinas em tons de branco e mostarda com bordados e rendas nas extremidades. O chão, coberto de carpetes trazidos de terras longínquas. Caminhou descalço lentamente, arrastando o lençol que enrolava seu corpo pujante. Aproximou-se da grande ventana quadrada e afastou os tecidos que impediam a entrada da luz. O dia estava muito claro e belíssimo. Quase cegou seus olhos com a claridade, que horas são afinal? Apenas olhou para a posição de seu astro luminoso e já soube: passara da hora do almoço.

Quarto real

Na mesa talhada em formas ondulantes que estava bem ao lado da janela, o rei encontrou um cesto de frutos e outras vasilhas que armazenavam comida: javali e galinha assados, guisados, manjares e toda sorte de legumes. Havia também vinho, a sua bebida predileta, que o fazia desmaiar por vezes. Seu estômago revirou-se e quis banhar-se. Antes, parou por um segundo frente à fenestra e sentiu o vento soprar no quarto, aquele realmente estava um dia muito agradável. Foi ao banho para livrar-se daquela ressaca.

Onde estaria Lua? Ela esta sempre ausente nos últimos dias, talvez ela ainda estivesse um pouco chateada por causa do breve desentendimento que tiveram na noite de núpcias. Hoje gostaria de passear com ela pelo reino, lhe presentearia com um ramo de lírios roxos e, quem sabe visitar alguns simples pobres dos vilarejos mais próximos. Ele tinha conhecimento de que a sua rainha amava passear entre os plebeus, era um ser mágico com a mente simples, amante dos humanos. Sol, apesar de contribuir com a vida na Terra, não era exatamente totalmente dedicado aos Simples. Costumava ser quando era louvado por eles como deus Rá pelos Egípcios, Apolo pelos gregos ou Inti pelos Incas. Desde a perda de sua hegemonia de deus, cumpre seus encargos apenas por obrigação. Sentia saudade dos tempos em que se envolvia em guerras, sua vida estava monótona, queria diversão, mais agitação em seu cotidiano.

Após chamar um empregado, sua banheira estava sendo rapidamente preparada, com sais de banho, como pedira para seu serviçal.

Estava sentado em sua cama, com o cabelo claro bagunçado e ainda envolvido pelo tecido de cama, virado de costas para a porta de entrada do quarto quando sentiu um toque de mão masculina em seu ombro esquerdo. Assustou-se e se pôs de pé, deixando a vestimenta improvisada desabar ao chão, revelando sua estrutura corporal robusta ao homem que estava em sua frente, que levou o cavaleiro a pensamentos totalmente pecaminosos para alguns, não para ele. Darwin desejava aquele homem, estava farto de subordinar jovens para deitar-se em desejo oculto. Queria revelar-se, mas como amaria alguém que nunca poderia se declarar, seu rei, e casado. Por que as coisas tinham que ser tão complicadas? Chegava a pensar que passaria toda a sua vida escondendo seus desejos e impulsos. Talvez pudesse tê-lo em oculto, afinal, as maiores verdades são sempre ocultadas. Mas, estaria o rei Sun, propenso a aceitar as ofertas de Darwin?

-Darwin, você me assuntou. Além do mais entrou sem bater. – O rei não pegou o lençol, caminhou até a porta do banheiro anexo e pegou um roupão de algodão branco, finíssimo, digno de um rei. Não se importava em estar nu a frente de seus "amigos" mais próximos. Na verdade Darwin não era bem um amigo, era uma pessoa de confiança, assim pensava o homem nu.

  Enquanto o rei caminhava de costas e falava, Darwin, vestindo sua armadura de cavaleiro em panos vermelhos e metais grossos e pesados, admirava a silhueta repleta de linhas bem definidas na pele bronzeada de seu superior. A alteza caminhava em passos pesados e lentos, dando a oportunidade do homem repleto de desejos observá-lo em cada centímetro do corpo a mostra. O cavaleiro real podia sentir o cheiro masculino que havia tomado o quarto. Cheiro de suor, cheiro de bebida, cheiro de homem e cheiro de lascívia que gostaria de ser consumada.

  Sun virou-se enquanto vestia-se. As roupas de banho cobriam até metade das coxas peludas e alentadas e Darwin se consumia em seus pensamentos sexuais que não podiam se concretizar.

  -Então, Darwin. O que queres? - O rei se aproximou e permaneceu em pé e com as mãos grossas na cintura.

  -Vim mais cedo e a majestade estava dormindo. Buscamos fugitivos de outros reinos que adentraram nosso território – agora o homem olhava nos olhos de seu objeto de cobiça.

-Já conseguiram capturar algum fugitivo? – ele coçava a barba que começava a aparecer em seu rosto.

-Apanhamos dois. Segundo as informações que temos dos reinos vizinhos, são três fugitivos.

-Capturem-nos e os mande de volta de onde vieram! – Virou-se e foi para o banho. O serviçal já havia concluído o preparo do banho.

-Sim senhor – e se foi. Sua voz era macia como a de uma mulher e grossa como a de um homem. Era um cavaleiro de honra, visto por todos do castelo como o segundo depois do rei e da rainha, já que não havia herdeiros.

Sol deitou-se na banheira. A água estava muito quente, exatamente como apreciava. Notou roupas molhadas da Lua no canto do banheiro: sua esposa havia passado por ali mais cedo, claramente. Queria encontra-la logo para que pudesse sair pelo reino a passeio. Dormiu sem vê-la na noite passada e já estava com saudades, uma saudade possessiva, uma saudade dominadora e ríspida. Ele mais queria possuir do que amar sua rainha e isso a desagradava. Sua vontade por poder o fez acreditar que, estando ao lado de Luna, a mulher da noite, o faria mais soberano e, o faria uma deidade. Enganara-se, nunca se deve brincar com o amor, nunca se deve brincar com a magia do coração. Ficou algum tempo no banho de submersão antes de se vestir e almoçar na mesa que estava preparada em seu quarto.

Estava trajando roupas adequadas para sair a passeio pelo reino, iria usar uma carruagem simples aquela tarde. Pelos corredores longos do castelo, encontrou os convidados de outros reinos que já haviam comido e se empantufado das farturas do reino do Sol e estavam ajeitando seus pertences para logo partir.

“Esses humanos ainda estão por aqui?”


Era cortês com os outros nobres e reis, entretanto se considerava superior aos outros, afinal, era um ser mágico, um Ser de Poder.

Desceu até o salão principal onde encontrou Lua chegando com sua serva Linetty pelas portas principais. Riam alto enquanto conversavam e se lembravam de antigas travessuras e cada uma trazia no colo um lebre marrom de estimação, adoravam as lebres da floresta. Um sorriso esmaeceu-se, o sorriso da Lua.

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