sexta-feira, 12 de julho de 2013

Capítulo 7 - O Segredo de Darwin

 O Segredo de Darwin
O dia amanhecia. A vegetação dançava com a maestria do vento, que a guiava no céu do Mundo dos Simples. Podia-se ouvir a música agitada dos pássaros que voavam em bando. Os ursos-pardos iam para os riachos caçarem peixes, os cervos comiam capim, as borboletas amarelas enfeitavam o vento e as Grandes-corujas-cinzentas e Corujas-de-Igreja se punham a dormir.

De dentro de uma árvore saia uma mulher mágica, como que fundida ao tronco, uma mulher com enfeites de flores nos cabelos castanhos: Flora saia de seu descanso dentro das árvores. Era assim que a mulher se camuflava na floresta, fundia-se às árvores. Dessa forma também conseguia absorver energia mágica da terra, energia necessária para suas atividades mágicas.

Queria muito se encontrar com Selene novamente. Não podia tê-lo todas as noites, pois perdas de memórias muito frequentes iriam causar suspeitas no homem. Mas já fazia alguns dias que não o possuía e já estava sedenta pelo camponês. Flora era responsável por manter o equilíbrio da vegetação, além de combater o desmatamento imprudente. Entretanto, ultimamente, estava empenhada em conquistar aquele homem e dividira algumas de suas atividades com os duendes, oferecendo-lhes moedas de ouro. Os duendes eram fascinados por moedas de ouro.

A magia do amor não funcionaria caso Selene estivesse realmente apaixonado pela morena Carrie. Mas não tinha certeza se ele a amava realmente, apenas suspeitava. Precisava testar sua tese. Transportou-se para o vilarejo onde o rapaz trabalhava. Caminhava lentamente a procura do rapaz. Não o encontrava. Foi até a casa do rapaz. Ainda era cedo e poderia ainda estar em sua casa de madeira.

Estava próxima da casa do rapaz e precisava ficar invisível para que ninguém a flagrasse espionando e assim fez. A casa era de madeira e possuía brechas entre algumas ripas da casa. Aproximou-se de uma brecha que dava vista para o interior da casa, justamente no quarto de Selene. Ele estava deitado em sua cama dormindo. Para um camponês, é muito preguiçoso, já devia estar trabalhando a essa hora. Mas algo estava errado. Ele não estava deitado sozinho. Selene estava abraçado com outra pessoa em sua cama, uma mulher morena: Carrie.

Flora ficou extremamente desgostosa do que via. O alvo de seus desejos deitado com outra mulher. Deu um grito de raiva que acordou o casal dentro da casa. Ainda bem que não podia ser vista. Selene levantou-se da cama e se vestiu com pressa, indo até a frente da casa, mas não avistou ninguém. Flora o fitava de longe. O homem estava sem camisa e com os cabelos bagunçados.

O Ser de Poder estava furioso. Queria tirar de seu caminho a plebeia, que já estava conquistando o coração de Selene. A mãe de Carrie estava doente, vítima das artimanhas de Flora. Agora era a hora perfeita de matar logo a velha. Mas precisava fazer as coisas com cautela, pois esta morte poderia aproximar os dois pombinhos ainda mais. Faria com que a moribunda batesse as botas e ainda tentaria afastar Carrie de Selene com um plano infalível que há algum tempo maquinara.

Estava determinada a tirar a vida da mãe da camponesa como primeiro passo de seu plano. Flora foi até a floresta e reuniu alguns ingredientes, incluindo ervas, cogumelos e animais mortos. A mãe de Carrie estava sendo tratada, sem muitos resultados, pelo único médico do reino. O médico, chamado David, possuía alguns ajudantes. Um deles, um menino de uns quinze anos de idade e que também era seu aprendiz estava encarregado, aquela tarde de levar remédios para a mãe de Carrie. Estaria levando a morte em pequenos frascos.

Dentro de uma caverna na Floresta do Sol, Flora mexia um caldeirão que era esquentado sobre pedras em brasa. Adicionava cada ingrediente por vez. Em suas mãos tinha um morcego vampiro muito peludo, ainda vivo e que se debatia. Flora empunhava uma pequena adaga dourada que, apesar de a tradição mágica proibir de ser usada para ferir, valeu-se para cortar o pescoço do pequeno mamífero, que deu um pequeno grito agudo, morrendo no exato momento. O sangue quente escorria entre os dedos de Flora e caia diretamente no pequeno caldeirão. Agora a feiticeira agitava o líquido viscoso com uma varinha mágica que possuía um cristal vermelho em sua extremidade superior, pronunciando palavras mágicas desconhecidas para os humanos.

Flora preparando a Poção da Morte Vampira


Flora foi até o castelo onde podia encontrar o laboratório de David, que ficava em um dos corredores do edifício real. Foi invisível, não queria ser vista pelos Simples, mas também tinha que ter cuidado, pois os Seres de Poder podiam se ver, mesmo estando invisíveis para os humanos. Para sua sorte, Lua havia saído para cavalgar com sua amiga Linetty e Sol estava dormindo, se curando do excesso de álcool.

Procurava pelo laboratório de David, estava com dificuldade de identifica-lo, pois naquele castelo havia tantos corredores e tantas portas! Andou por mais algum tempo, desviando de alguns empregados e tomando cuidado para não esbarrar nos objetos de decoração do castelo. Flora já estava ficando com dor de cabeça, quando viu um rapaz carregando uma bandeja com pequenos frascos. Pensou ser algum ajudante do médico. Resolveu seguir o rapaz que andou por mais de três corredores até chegar ao laboratório.

-Senhor David, já levei os remédios para os cavaleiros que estão resfriados.

-Muito bem jovem – O clínico possuía uma voz rouca, era um homem já velho -, lave os vidros e os esterilize, por favor.

- Sim senhor. – O rapaz parecia muito eficiente. Dentro do cômodo, que era muito grande, havia outros jovens, que preparavam remédios, moíam ervas e liam livros. David estava guiando um rapaz já adulto – seu sucessor como médico do reino-, no preparo de um remédio que estava sendo pesquisado, justamente para a mãe de Carrie, que apresentava uma doença desconhecida.

-Agora vamos adicionar as sementes de laranja moídas e os talos de abóbora torrados e o boldo. – Os ingredientes estavam sendo assentados em um vidro escuro que possuía um líquido denso e muito escuro borbulhante.

-Doutor, qual a finalidade da semente de laranja e dos talos de abóbora? – O rapaz interessado em aprender a ciência da medicina questionava seu médico. – Nunca usei estes ingredientes para remédios.

-Estes ingredientes possuem agentes ativos que vão aliviar a febre da mãe de Carrie.

Flora estava interessada naquela conversa, já que falavam de seu alvo. Esperaria até que o rapaz se distraísse e então colocaria seu veneno de morte dentro daquela mistura. Seria quase impossível, pois o rapaz estava muito dedicado àquela mistura. Aquela poção mágica era chamada Poção da Morte Vampira, pois sugava toda a energia vital da pessoa que o tomasse em poucas horas, parando seu coração de bater. Era um feitiço que de Magia Negra, inventado pela própria Flora e, para o azar de Carrie, não possuía um antídoto.

Na tentativa de uma oportunidade para concretizar seu plano, Flora foi para fora do laboratório e com um movimento magico ocasionou uma pequena explosão no corredor, não ferindo ninguém – o que não era sua preocupação -, mas atraindo todos para fora do consultório, preocupados e curiosos com o estrondo.

Com cuidado para não trombar nos ajudantes, entrou no laboratório – ainda invisível-, e adicionou na mistura seu veneno vermelho, que se misturou ao remédio escuro. Uma morte já estava agendada para aquela tarde. Em seus lábios Flora já sentia o sabor da vingança contra a mulher que possuía o coração de Selene. Esperava que tudo desse certo.

Agora precisava dar um jeito em Selene. Carrie iria ficar fragilizada com a morte de sua mãe e precisava brigar com seu namorado. Uma mulher fragilizada era o melhor alvo para um homem que a quer seduzir e era nisso que Flora estava pensando. Conseguiria ela fazer com que a camponesa xucra fosse seduzida por outro homem?

Perto dali um homem estava caminhando pelos corredores e conferindo a segurança do castelo. Tratava-se de Darwin. Este subiu as escadas para verificar com o Rei Sun sobre sua busca por prisioneiros fugitivos que tinham cruzado os limites do reino. Não encontrava o rei em lugar nenhum, então subiu até o seu quarto. O rei ainda estava dormindo, ainda nu. Estava com o sono muito pesado. Sempre que bebia muito, dormia como um urso no inverno. Selene ficou parado na porta olhando o rei nu, que cobria apenas parte do corpo.

Flora estava passando por corredores próximos ao do quarto do rei. Resolveu dar uma volta pelo castelo. Carrie não era a única pessoa alvo das maldades de Flora. Lua era quem ocupava o cargo de rainha que a mulher das flores queria tomar, o de rainha – este ser mágico era muito ambicioso e egoísta. Seria bom matar dois coelhos em uma cajadada só. Apesar de esta não ser sua preocupação mais urgente – Selene estava nos seus planos mais próximos -, seria bom estar sempre por dentro dos assuntos do castelo, para uma investida propícia e derrocada de Lua.

Passava por um corredor praticamente vazio e não encontrava nem Sol, nem Lua. Viu um cavaleiro entrar em um quarto. Era um simples e não podia vê-la. Seguiu o homem alto. Conseguiu ver que aquele era o quarto real, onde Sol estava dormindo. Aproveitou e entrou no quarto antes que Darwin fechasse a porta com a chave grossa. Ficou invisível em um canto do quarto, atrás de um guarda-roupa, caso Sol acordasse e a visse. Olhou Sol nu na cama e se recordou de quando era sua namorada e o amava todas as noites, até ele se apaixonar por Lua.

Flora estava intrigada com o que via. O homem se aproximou da cama e ficou por alguns minutos apenas olhando para o corpo do rei, que estava deitado de barriga para cima. O rapaz sabia que seu rei tinha o sono pesado. Darwin tirou levemente o lençol de cima do corpo musculoso que logo se mostrou totalmente despido, exatamente como estava na noite anterior. O homem agora não era o único a conhecer seu segredo. Um ser mágico ali naquele quarto, invisível, agora sabia que Darwin era gay e se aproveitava do rei em seus sonos profundos. Ele passava a mão levemente pelo corpo do rei, com muita delicadeza.


O homem não se demorou muito. Cobriu o rei novamente e se levantou, arrumando sua calça, para que não denunciasse sua ereção, e saiu do quarto. Flora permaneceu ali mais alguns minutos enquanto raciocinava sobre oque tinha visto. Novas ideias malévolas surgiam em sua mente. 

Dayvid Fernandes - O Autor
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