terça-feira, 16 de julho de 2013

Uma palavrinha do autor

Olá, caros leitores de toda a parte do mundo. Tenho notado que a maior parte do público que lê meu livro é dos seguintes países:

Rússia
Alemanha
Estados Unidos
Sérvia 
Brasil

Gostaria de agradecer a sua assiduidade. Espero que estejam gostando da história que estou sonhando para vocês se aventurarem e se conectarem com seus verdadeiros sentimentos. 

Agradeço sua presença por aqui.

Aguardem que, os próximos capítulos desta história trazem muita agitação e problemáticas para todos os núcleos da história.

Obrigado novamente.


Dayvid Fernandes 
O Autor 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Capítulo 8 - A manhã de Sol

  A manhã de Sol
Abriu os olhos. Sentia uma profunda dor de cabeça, como que se uma broca tivesse passado por dentro dela. Virou-se na cama e percebeu que estava sem roupas. Sua esposa não estava ao seu lado e o quarto estava escuro, com as cortinas fechadas, presumiu. Estava em imensa preguiça e não queria levantar-se da cama, mas precisava, tinha compromissos mágicos e terrenos a cumprir. Às vezes Sol gostaria de tirar umas férias de seus deveres superiores como Ser de Poder, era um preguiçoso que não havia outro igual. Mas a continuação da vida terrestre precisava de sua contribuição.

Rolou novamente na cama, como um cachorrinho faz em seu balaio de dormir. Chega! Precisava vencer aquela moleza mesmo. Sentou-se na beirada da cama e enrolou-se em um lençol branco que estava jogado ao chão, bem ao lado da enorme cama. Ansiava por um banho quente. A água do banho de Sol era muito quente e os empregados achavam isso estranho, pois a temperatura que exigia era capaz de derreter a pele de qualquer um. Ele gostava. Estava acostumado com as altas temperatura, era o Sol.

Caminhou pelo quarto, sentiu cheiro de comida. O cômodo estava todo bem organizado, exceto o leito, é claro, com os travesseiros de pena todos espalhados entre lençóis e cobertores. O quarto possuía forma quadrada, a maioria das paredes  era toda revestida por cortinas em tons de branco e mostarda com bordados e rendas nas extremidades. O chão, coberto de carpetes trazidos de terras longínquas. Caminhou descalço lentamente, arrastando o lençol que enrolava seu corpo pujante. Aproximou-se da grande ventana quadrada e afastou os tecidos que impediam a entrada da luz. O dia estava muito claro e belíssimo. Quase cegou seus olhos com a claridade, que horas são afinal? Apenas olhou para a posição de seu astro luminoso e já soube: passara da hora do almoço.

Quarto real

Na mesa talhada em formas ondulantes que estava bem ao lado da janela, o rei encontrou um cesto de frutos e outras vasilhas que armazenavam comida: javali e galinha assados, guisados, manjares e toda sorte de legumes. Havia também vinho, a sua bebida predileta, que o fazia desmaiar por vezes. Seu estômago revirou-se e quis banhar-se. Antes, parou por um segundo frente à fenestra e sentiu o vento soprar no quarto, aquele realmente estava um dia muito agradável. Foi ao banho para livrar-se daquela ressaca.

Onde estaria Lua? Ela esta sempre ausente nos últimos dias, talvez ela ainda estivesse um pouco chateada por causa do breve desentendimento que tiveram na noite de núpcias. Hoje gostaria de passear com ela pelo reino, lhe presentearia com um ramo de lírios roxos e, quem sabe visitar alguns simples pobres dos vilarejos mais próximos. Ele tinha conhecimento de que a sua rainha amava passear entre os plebeus, era um ser mágico com a mente simples, amante dos humanos. Sol, apesar de contribuir com a vida na Terra, não era exatamente totalmente dedicado aos Simples. Costumava ser quando era louvado por eles como deus Rá pelos Egípcios, Apolo pelos gregos ou Inti pelos Incas. Desde a perda de sua hegemonia de deus, cumpre seus encargos apenas por obrigação. Sentia saudade dos tempos em que se envolvia em guerras, sua vida estava monótona, queria diversão, mais agitação em seu cotidiano.

Após chamar um empregado, sua banheira estava sendo rapidamente preparada, com sais de banho, como pedira para seu serviçal.

Estava sentado em sua cama, com o cabelo claro bagunçado e ainda envolvido pelo tecido de cama, virado de costas para a porta de entrada do quarto quando sentiu um toque de mão masculina em seu ombro esquerdo. Assustou-se e se pôs de pé, deixando a vestimenta improvisada desabar ao chão, revelando sua estrutura corporal robusta ao homem que estava em sua frente, que levou o cavaleiro a pensamentos totalmente pecaminosos para alguns, não para ele. Darwin desejava aquele homem, estava farto de subordinar jovens para deitar-se em desejo oculto. Queria revelar-se, mas como amaria alguém que nunca poderia se declarar, seu rei, e casado. Por que as coisas tinham que ser tão complicadas? Chegava a pensar que passaria toda a sua vida escondendo seus desejos e impulsos. Talvez pudesse tê-lo em oculto, afinal, as maiores verdades são sempre ocultadas. Mas, estaria o rei Sun, propenso a aceitar as ofertas de Darwin?

-Darwin, você me assuntou. Além do mais entrou sem bater. – O rei não pegou o lençol, caminhou até a porta do banheiro anexo e pegou um roupão de algodão branco, finíssimo, digno de um rei. Não se importava em estar nu a frente de seus "amigos" mais próximos. Na verdade Darwin não era bem um amigo, era uma pessoa de confiança, assim pensava o homem nu.

  Enquanto o rei caminhava de costas e falava, Darwin, vestindo sua armadura de cavaleiro em panos vermelhos e metais grossos e pesados, admirava a silhueta repleta de linhas bem definidas na pele bronzeada de seu superior. A alteza caminhava em passos pesados e lentos, dando a oportunidade do homem repleto de desejos observá-lo em cada centímetro do corpo a mostra. O cavaleiro real podia sentir o cheiro masculino que havia tomado o quarto. Cheiro de suor, cheiro de bebida, cheiro de homem e cheiro de lascívia que gostaria de ser consumada.

  Sun virou-se enquanto vestia-se. As roupas de banho cobriam até metade das coxas peludas e alentadas e Darwin se consumia em seus pensamentos sexuais que não podiam se concretizar.

  -Então, Darwin. O que queres? - O rei se aproximou e permaneceu em pé e com as mãos grossas na cintura.

  -Vim mais cedo e a majestade estava dormindo. Buscamos fugitivos de outros reinos que adentraram nosso território – agora o homem olhava nos olhos de seu objeto de cobiça.

-Já conseguiram capturar algum fugitivo? – ele coçava a barba que começava a aparecer em seu rosto.

-Apanhamos dois. Segundo as informações que temos dos reinos vizinhos, são três fugitivos.

-Capturem-nos e os mande de volta de onde vieram! – Virou-se e foi para o banho. O serviçal já havia concluído o preparo do banho.

-Sim senhor – e se foi. Sua voz era macia como a de uma mulher e grossa como a de um homem. Era um cavaleiro de honra, visto por todos do castelo como o segundo depois do rei e da rainha, já que não havia herdeiros.

Sol deitou-se na banheira. A água estava muito quente, exatamente como apreciava. Notou roupas molhadas da Lua no canto do banheiro: sua esposa havia passado por ali mais cedo, claramente. Queria encontra-la logo para que pudesse sair pelo reino a passeio. Dormiu sem vê-la na noite passada e já estava com saudades, uma saudade possessiva, uma saudade dominadora e ríspida. Ele mais queria possuir do que amar sua rainha e isso a desagradava. Sua vontade por poder o fez acreditar que, estando ao lado de Luna, a mulher da noite, o faria mais soberano e, o faria uma deidade. Enganara-se, nunca se deve brincar com o amor, nunca se deve brincar com a magia do coração. Ficou algum tempo no banho de submersão antes de se vestir e almoçar na mesa que estava preparada em seu quarto.

Estava trajando roupas adequadas para sair a passeio pelo reino, iria usar uma carruagem simples aquela tarde. Pelos corredores longos do castelo, encontrou os convidados de outros reinos que já haviam comido e se empantufado das farturas do reino do Sol e estavam ajeitando seus pertences para logo partir.

“Esses humanos ainda estão por aqui?”


Era cortês com os outros nobres e reis, entretanto se considerava superior aos outros, afinal, era um ser mágico, um Ser de Poder.

Desceu até o salão principal onde encontrou Lua chegando com sua serva Linetty pelas portas principais. Riam alto enquanto conversavam e se lembravam de antigas travessuras e cada uma trazia no colo um lebre marrom de estimação, adoravam as lebres da floresta. Um sorriso esmaeceu-se, o sorriso da Lua.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Capítulo 7 - O Segredo de Darwin

 O Segredo de Darwin
O dia amanhecia. A vegetação dançava com a maestria do vento, que a guiava no céu do Mundo dos Simples. Podia-se ouvir a música agitada dos pássaros que voavam em bando. Os ursos-pardos iam para os riachos caçarem peixes, os cervos comiam capim, as borboletas amarelas enfeitavam o vento e as Grandes-corujas-cinzentas e Corujas-de-Igreja se punham a dormir.

De dentro de uma árvore saia uma mulher mágica, como que fundida ao tronco, uma mulher com enfeites de flores nos cabelos castanhos: Flora saia de seu descanso dentro das árvores. Era assim que a mulher se camuflava na floresta, fundia-se às árvores. Dessa forma também conseguia absorver energia mágica da terra, energia necessária para suas atividades mágicas.

Queria muito se encontrar com Selene novamente. Não podia tê-lo todas as noites, pois perdas de memórias muito frequentes iriam causar suspeitas no homem. Mas já fazia alguns dias que não o possuía e já estava sedenta pelo camponês. Flora era responsável por manter o equilíbrio da vegetação, além de combater o desmatamento imprudente. Entretanto, ultimamente, estava empenhada em conquistar aquele homem e dividira algumas de suas atividades com os duendes, oferecendo-lhes moedas de ouro. Os duendes eram fascinados por moedas de ouro.

A magia do amor não funcionaria caso Selene estivesse realmente apaixonado pela morena Carrie. Mas não tinha certeza se ele a amava realmente, apenas suspeitava. Precisava testar sua tese. Transportou-se para o vilarejo onde o rapaz trabalhava. Caminhava lentamente a procura do rapaz. Não o encontrava. Foi até a casa do rapaz. Ainda era cedo e poderia ainda estar em sua casa de madeira.

Estava próxima da casa do rapaz e precisava ficar invisível para que ninguém a flagrasse espionando e assim fez. A casa era de madeira e possuía brechas entre algumas ripas da casa. Aproximou-se de uma brecha que dava vista para o interior da casa, justamente no quarto de Selene. Ele estava deitado em sua cama dormindo. Para um camponês, é muito preguiçoso, já devia estar trabalhando a essa hora. Mas algo estava errado. Ele não estava deitado sozinho. Selene estava abraçado com outra pessoa em sua cama, uma mulher morena: Carrie.

Flora ficou extremamente desgostosa do que via. O alvo de seus desejos deitado com outra mulher. Deu um grito de raiva que acordou o casal dentro da casa. Ainda bem que não podia ser vista. Selene levantou-se da cama e se vestiu com pressa, indo até a frente da casa, mas não avistou ninguém. Flora o fitava de longe. O homem estava sem camisa e com os cabelos bagunçados.

O Ser de Poder estava furioso. Queria tirar de seu caminho a plebeia, que já estava conquistando o coração de Selene. A mãe de Carrie estava doente, vítima das artimanhas de Flora. Agora era a hora perfeita de matar logo a velha. Mas precisava fazer as coisas com cautela, pois esta morte poderia aproximar os dois pombinhos ainda mais. Faria com que a moribunda batesse as botas e ainda tentaria afastar Carrie de Selene com um plano infalível que há algum tempo maquinara.

Estava determinada a tirar a vida da mãe da camponesa como primeiro passo de seu plano. Flora foi até a floresta e reuniu alguns ingredientes, incluindo ervas, cogumelos e animais mortos. A mãe de Carrie estava sendo tratada, sem muitos resultados, pelo único médico do reino. O médico, chamado David, possuía alguns ajudantes. Um deles, um menino de uns quinze anos de idade e que também era seu aprendiz estava encarregado, aquela tarde de levar remédios para a mãe de Carrie. Estaria levando a morte em pequenos frascos.

Dentro de uma caverna na Floresta do Sol, Flora mexia um caldeirão que era esquentado sobre pedras em brasa. Adicionava cada ingrediente por vez. Em suas mãos tinha um morcego vampiro muito peludo, ainda vivo e que se debatia. Flora empunhava uma pequena adaga dourada que, apesar de a tradição mágica proibir de ser usada para ferir, valeu-se para cortar o pescoço do pequeno mamífero, que deu um pequeno grito agudo, morrendo no exato momento. O sangue quente escorria entre os dedos de Flora e caia diretamente no pequeno caldeirão. Agora a feiticeira agitava o líquido viscoso com uma varinha mágica que possuía um cristal vermelho em sua extremidade superior, pronunciando palavras mágicas desconhecidas para os humanos.

Flora preparando a Poção da Morte Vampira


Flora foi até o castelo onde podia encontrar o laboratório de David, que ficava em um dos corredores do edifício real. Foi invisível, não queria ser vista pelos Simples, mas também tinha que ter cuidado, pois os Seres de Poder podiam se ver, mesmo estando invisíveis para os humanos. Para sua sorte, Lua havia saído para cavalgar com sua amiga Linetty e Sol estava dormindo, se curando do excesso de álcool.

Procurava pelo laboratório de David, estava com dificuldade de identifica-lo, pois naquele castelo havia tantos corredores e tantas portas! Andou por mais algum tempo, desviando de alguns empregados e tomando cuidado para não esbarrar nos objetos de decoração do castelo. Flora já estava ficando com dor de cabeça, quando viu um rapaz carregando uma bandeja com pequenos frascos. Pensou ser algum ajudante do médico. Resolveu seguir o rapaz que andou por mais de três corredores até chegar ao laboratório.

-Senhor David, já levei os remédios para os cavaleiros que estão resfriados.

-Muito bem jovem – O clínico possuía uma voz rouca, era um homem já velho -, lave os vidros e os esterilize, por favor.

- Sim senhor. – O rapaz parecia muito eficiente. Dentro do cômodo, que era muito grande, havia outros jovens, que preparavam remédios, moíam ervas e liam livros. David estava guiando um rapaz já adulto – seu sucessor como médico do reino-, no preparo de um remédio que estava sendo pesquisado, justamente para a mãe de Carrie, que apresentava uma doença desconhecida.

-Agora vamos adicionar as sementes de laranja moídas e os talos de abóbora torrados e o boldo. – Os ingredientes estavam sendo assentados em um vidro escuro que possuía um líquido denso e muito escuro borbulhante.

-Doutor, qual a finalidade da semente de laranja e dos talos de abóbora? – O rapaz interessado em aprender a ciência da medicina questionava seu médico. – Nunca usei estes ingredientes para remédios.

-Estes ingredientes possuem agentes ativos que vão aliviar a febre da mãe de Carrie.

Flora estava interessada naquela conversa, já que falavam de seu alvo. Esperaria até que o rapaz se distraísse e então colocaria seu veneno de morte dentro daquela mistura. Seria quase impossível, pois o rapaz estava muito dedicado àquela mistura. Aquela poção mágica era chamada Poção da Morte Vampira, pois sugava toda a energia vital da pessoa que o tomasse em poucas horas, parando seu coração de bater. Era um feitiço que de Magia Negra, inventado pela própria Flora e, para o azar de Carrie, não possuía um antídoto.

Na tentativa de uma oportunidade para concretizar seu plano, Flora foi para fora do laboratório e com um movimento magico ocasionou uma pequena explosão no corredor, não ferindo ninguém – o que não era sua preocupação -, mas atraindo todos para fora do consultório, preocupados e curiosos com o estrondo.

Com cuidado para não trombar nos ajudantes, entrou no laboratório – ainda invisível-, e adicionou na mistura seu veneno vermelho, que se misturou ao remédio escuro. Uma morte já estava agendada para aquela tarde. Em seus lábios Flora já sentia o sabor da vingança contra a mulher que possuía o coração de Selene. Esperava que tudo desse certo.

Agora precisava dar um jeito em Selene. Carrie iria ficar fragilizada com a morte de sua mãe e precisava brigar com seu namorado. Uma mulher fragilizada era o melhor alvo para um homem que a quer seduzir e era nisso que Flora estava pensando. Conseguiria ela fazer com que a camponesa xucra fosse seduzida por outro homem?

Perto dali um homem estava caminhando pelos corredores e conferindo a segurança do castelo. Tratava-se de Darwin. Este subiu as escadas para verificar com o Rei Sun sobre sua busca por prisioneiros fugitivos que tinham cruzado os limites do reino. Não encontrava o rei em lugar nenhum, então subiu até o seu quarto. O rei ainda estava dormindo, ainda nu. Estava com o sono muito pesado. Sempre que bebia muito, dormia como um urso no inverno. Selene ficou parado na porta olhando o rei nu, que cobria apenas parte do corpo.

Flora estava passando por corredores próximos ao do quarto do rei. Resolveu dar uma volta pelo castelo. Carrie não era a única pessoa alvo das maldades de Flora. Lua era quem ocupava o cargo de rainha que a mulher das flores queria tomar, o de rainha – este ser mágico era muito ambicioso e egoísta. Seria bom matar dois coelhos em uma cajadada só. Apesar de esta não ser sua preocupação mais urgente – Selene estava nos seus planos mais próximos -, seria bom estar sempre por dentro dos assuntos do castelo, para uma investida propícia e derrocada de Lua.

Passava por um corredor praticamente vazio e não encontrava nem Sol, nem Lua. Viu um cavaleiro entrar em um quarto. Era um simples e não podia vê-la. Seguiu o homem alto. Conseguiu ver que aquele era o quarto real, onde Sol estava dormindo. Aproveitou e entrou no quarto antes que Darwin fechasse a porta com a chave grossa. Ficou invisível em um canto do quarto, atrás de um guarda-roupa, caso Sol acordasse e a visse. Olhou Sol nu na cama e se recordou de quando era sua namorada e o amava todas as noites, até ele se apaixonar por Lua.

Flora estava intrigada com o que via. O homem se aproximou da cama e ficou por alguns minutos apenas olhando para o corpo do rei, que estava deitado de barriga para cima. O rapaz sabia que seu rei tinha o sono pesado. Darwin tirou levemente o lençol de cima do corpo musculoso que logo se mostrou totalmente despido, exatamente como estava na noite anterior. O homem agora não era o único a conhecer seu segredo. Um ser mágico ali naquele quarto, invisível, agora sabia que Darwin era gay e se aproveitava do rei em seus sonos profundos. Ele passava a mão levemente pelo corpo do rei, com muita delicadeza.


O homem não se demorou muito. Cobriu o rei novamente e se levantou, arrumando sua calça, para que não denunciasse sua ereção, e saiu do quarto. Flora permaneceu ali mais alguns minutos enquanto raciocinava sobre oque tinha visto. Novas ideias malévolas surgiam em sua mente. 

Dayvid Fernandes - O Autor
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Capítulo 6- Mentido para si mesma

 Mentindo para si mesma
-Olá novamente. – Disse a rainha para o zelador dos cavalos ao chegar a estribaria, vinda de sua escapadinha no meio de sua festa de coroação.

-Olá alteza – o rapaz foi receptivo, afinal, estava falando com sua rainha -, vejo que se demorou no passeio. Algo deu errado? Eu devia ter mandado os seguranças te acompanhar. Perdoe-me.

- Orson, eu realmente não precisei de guardas – ela gostava de tratar seus empregados pelo nome, ao invés de considera-los apenas subordinados -, eu sou uma mulher forte. Você me conhece desde que eu era uma plebeia. Não precisa temer a minha presença. Nunca me esquecerei de onde vim.
- Obrigado, rainha Luna.

- Você pode me chamar de Luna, apenas Luna. – E sorriu. Ela era realmente encantadora. Não havia pessoa que não ficasse cativada em sua presença e era por isso que era amada pelo povo, mas era também por isso que Flora a odiava tanto: inveja.

O sol estava quase se pondo. A festa ainda estava acontecendo? Será que os convidados e, pior, seu marido, o rei, haviam notado a sua falta?

-Escute Orson. – Luna, inquiriu novamente o zelador.

-Sim rainha Luna, ops... Sim, Luna. – O rapaz deu um sorriso envergonhado.

- Você sabe se os convidados já se foram? – Ela demonstrava estar um pouco preocupada, não queria arrumar encrencas com o rei.

-Não tenho certeza, mas acho que ainda estão no castelo lady Luna. Não penso que se irão embora hoje. Como bem deve saber, é costume que passem a noite no castelo.

-Muito obrigado pela informação meu bom rapaz. – E pôs-se a retirar alguns fiapos de grama e gravetos que se prenderam em seu vestido verde claro. Agora sua roupa não estava mais tão bem arrumada se comparada ao momento de quando saiu a cavalgar.

Despediu-se do rapaz que guardava o cavalo e alimentava-o. Correu para o castelo o mais rápido que pode sem que ninguém a notasse, passando por trás de caixas e cavalos no meio das vielas. Cruzou o pátio central, onde havia a escadaria do enorme castelo e contornou por trás deste, entrando pela porta dos empregados. Sem prestar muita atenção à sua frente, esbarrou-se com Linetty, uma serviçal conhecida de Lua, caindo ambas no chão e derrubando as taças de cristal, que esta carregava em uma bandeja de prata. Foi uma barulheira daquelas. Era a ocasião perfeita para Lua pedir outras roupas para se vestir. Mas não precisaria mentir muito: Linetty e Luna eram amigas há muito tempo.

            - Me desculpe. – a criada, vestindo seus trajes de serviçal do castelo, estava realmente envergonhada, até notar que era a rainha com quem havia esbarrado.

- Mas não é nada, sou eu, Linetty.

-Ah! Mas mesmo assim lhe devo desculpas. Mas você estava correndo? Parece que está se escondendo de alguém.

As duas conheciam-se mesmo antes de a plebeia se tornar rainha. Ambas costumavam sair para cavalgar juntas e se metiam em travessuras juntas. Esta foi a primeira amiga que Lua fez ao chegar naquele reino. Assim que se casou e se tornou rainha, prometeu à amiga que a tornaria sua serva, apenas para poderem ficar juntas por mais tempo. Linetty era uma pessoa muito carismática e divertida, fazia Lua rir sempre. As duas eram boas amigas.

- Olha Linety, não posso te explicar agora, eu estava apenas dando um passeio. Mas me arrume um vestido limpo, este está sujo por causa do tombo que tivemos. – E riu de maneira dissimulada.

- Já volto, então. Vou buscar em seu quarto. Que tipo de vestido você prefere?

-Me traga um vestido de recepção de convidados. Vá correndo. – Lua falou baixo para não ser ouvida.

A criada real subiu as escadas, muito rápido. O castelo já estava escurecendo e então, pegou uma lamparina que estava pendurada em uma parede dos corredores. Correu para o quarto da rainha. Ao entrar no quarto, viu que o chão estava molhado, perto da janela. Ficou curiosa sobre isso, mas ignorou o fato, sua amiga estava precisando daquele vestido com pressa. Fechou a janela, mais tarde voltaria para secar aquilo.

-Aqui está, Luna. – enquanto ajudava sua amiga a vestir o vestido na cor bordô, que recaía sobre o corpo da rainha ressaltando cada curva, tornando-a mais linda ainda e valorizando seu busto, Linety questionou-a. - Você deu uma escapadinha para cavalgar não é mesmo?

- Sim... Aqueles reis e rainhas estavam me deixando entediada.

-Mas nem me chamou, amiga! – Luna e Linetty tinham uma relação muito próxima e qualquer um estranharia o jeito que a criada falava à sua rainha, mas elas não, pois eram quase irmãs.

- Me desculpe, foi meio de repente. Prometo que saímos juntas na próxima vez. – Ela olhou para a amiga e lhe deu um abraço e um beijo no rosto claro, onde caíam alguns fios loiros de cabelo. – Me diga, os convidados ainda estão ai?

- Estão sim. Mas vão embora somente amanhã. Você não sabe disso?

- Eu esqueci... Obrigado Linety. Ah, pode preparar um banho para mim? Sei que quase nunca peço, mas hoje estou um pouco cansada.

-Sim, queer! – E ambas riram.

Lua retirou-se e passou ao próximo salão, que já estava com as lamparinas acesas, já que a noite caía. Ao passo que caminhava, terminava de ajeitar seu vestido que a deixava mais linda e contrastava com sua pele branca. Foi quando quase tropeçou em um brutamonte caído no chão.

-Mas o que você está fazendo aqui Sun!

O rei estava caído no chão. Perto dele havia vômito e uma taça que derramava vinho. Lua já imaginava o que havia acontecido e não era a primeira vez, já imaginava isso. Como havia previsto antes, o Ser de Poder havia se embriagado mais uma vez. Ela não gostava de quando ele se embriagava daquela forma. Por um momento parou e ficou olhando o homem e passou a conversar consigo mesma. Aquela não era mais apenas a visão de um homem bêbado, representava muito mais.

“Ele bem que poderia considerar como eu ficaria em relação a isso. Eu não consigo, mas mesmo quando ele não está bêbado, é assim que eu o vejo: um indivíduo sem pudor. Eu bem que queria ter uma vida feliz com ele. Sei que tenho que me acostumar com algumas das características da pessoa que eu amo. Mas eu não consigo. Amo-o realmente? Eu também tenho minhas particularidades que devo respeitar antes de tudo. Se ele quer manter uma relação comigo, tem que aprender respeitá-las também. Um homem bêbado caído no chão: é com isso que quero continuar casada? Poderei eu amá-lo a ponto de perdoar suas bebedeiras? Não sei por que ele começou a beber tanto. Antes ele apenas bebia ‘socialmente’. Tenho que por um fim nisso. Conversaremos sobre isso quando ele acordar”.

Uma lágrima escorreu do rosto da rainha enquanto ela chamava alguns empregados para levar o moribundo para seus aposentos reais, onde dormiria por dois dias. Os seres mágicos ficavam muito tempo sem dormir: utilizavam mágica para repor suas energias. Estes precisavam ficar acordados para manter suas atividades em regularidade. Mas Sol precisava dormir sempre devido às bebedeiras que lhe gastavam as energias. Ela era uma pessoa muito emocional e gostava de refletir consigo mesma sempre, exatamente como fazia agora.

“Não é apenas para manter a aparência. Não quero apenas fingir uma relação feliz. Quero ser respeitada. Sei que tenho meus defeitos. Mesmo sendo uma divindade, tenho emoções, afinal, quando você possui um coração – no sentido dos sentimentos – todos os sentimentos passam a conviver com você. Não consigo fingir, mas não posso quebrar o coração do Sol, pois ele ficaria muito furioso: não quero começar uma guerra mágica agora. Posso até simular para ele, mas não consigo mentir para mim.
Além do mais, ele tem que ser responsável. Tem que manter seus compromissos com a humanidade e suas atitudes não estão correspondentes a seu cargo mágico”.

O rei foi levado ao quarto em uma maca pelos seus servos. A rainha se locomoveu até o salão principal. Não encontrou ninguém. Onde estariam os simples que se chamam de nobres? Já teriam se recolhido? Lua encontrou Darwin descendo as escadarias.

Darwin descia as escadas. Ele havia ajudado a despir o rei para que pudesse deitar-se e repousar de sua embriaguez. Darwin era um homem muito elegante, era o humano mais próximo do rei. Este era um filho de nobres de outros reinos que, ouvindo falar das riquezas do reino do Sol, resolveu entrar para sua cavalaria, passando pelos testes apropriados e trazendo consigo uma carta oficial, comprovando ser um ilustre sangue azul. Além disso, ele tinha segredos que escondia de sua família e queria estar longe quando resolvesse revela-los. E seus segredos estavam para serem revelados. Esperaria a hora certa.

-Darwin, olá! Você tem notícia dos convidados?

- Olá, minha rainha. – Ele tinha um olhar malévolo e muito desconfiado em relação a tudo. - Eles estão em seus aposentos. Irão embora após o almoço de amanhã.  – O cavaleiro respondeu gentilmente.

- Muito obrigado pela informação. – E continuou a subir as escadas quando ouviu o homem arguindo-a.

- A propósito, reparei que a senhora não estava presente no fim do encontro de hoje. – A discrição de Lua foi quebrada.

-Eu tive que sair para ver uma amiga doente. – Lua estava nervosa.

- Que amiga? – Ele continuava questionando-a, na tentativa de desvendar aquela aparente mentira.
- Uma amiga que, você com certeza não conhece. Oras, estou cansada – estava percebendo um tom muito irônico na voz do rapaz-, vou me retirar. Até mais Darwin.

- Tenha um bom descanso rainha. Eu já despi o rei, ele não estava nas condições de fazer isso sozinho.

A rainha ouviu e tornou a ascender às escadas. Mas que servo mais insubordinado. Questionava a sua própria rainha como se ela estivesse escondendo algo, e na verdade estava. Mais do que uma simples cavalgada, escondia dentro de si sua própria infelicidade. Naquela noite, Luna passaria todo o tempo em sua banheira com água quente, já preparada por sua serva e amiga Linetty.

Entrou no seu quarto e viu Sol esticado em sua cama gigante, expondo seus glúteos lisos. Darwin podia ao menos tê-lo coberto. Não se sentia confortável com a atitude do cavaleiro de despir Sol, mesmo sendo homens. Ele estava realmente bêbado e seu bafo de álcool incomodava a linda mulher. Tirou seu vestido escuro, acendeu algumas velas aromáticas para aliviar o fedor de seu marido e se dirigiu ao banheiro da suíte real.

A noite chegou e agora Lua estava sentindo suas energias gastas durante o dia sendo reativadas. Era durante o período noturno que ela se tornava mais forte e sua mágica passava a fluir melhor em suas veias. Afundou-se na banheira e começou a meditar sobre seu encontro com o homem dos mares e esboçou um sorriso. Aquele Ser de Poder era muito simpático e agradável de conversar. Lua imaginava que podia ter feito amizade com Mar muito antes. Apesar de ser muito carismática e gentil com todos, ela não tinha muitos amigos mágicos: preferia a companhia das estrelas, suas fadas.

Lua submergiu-se na banheira e lá ficara. Seu corpo era lindíssimo e macio, cada curva delicadamente desenhada pelos deuses. Seus dedos do pé, muito delicados afloravam na superfície líquida da banheira, cobertos de espumas. Ela estava excitada e começava a se acariciar o próprio corpo, como que apreciando cada relevo de seu corpo feminino. Passava os dedos finos da mão direita em seus mamilos, deixando-os rígidos. Em alguns momentos deixava escapar gemidos baixos, como que um gato noturno a espreita de diversão. Com a outra mão atritava suas partes sexuais. Pensava na figura de um homem muito atraente e másculo, Mar. Em êxtase e, totalmente submersa na enorme banheira, passava a mão pelo pescoço e na nuca enquanto acariciava-se em busca de prazer . Finalmente um último gemido a trouxe ao êxtase.

Não estava totalmente satisfeita, queria uma pessoa de verdade ali. Com os olhos fechados lembrava-se de quando fora “resgatada” por Mar, que pensou que ela era uma mulher afogando-se no lago. Em sua tela mental conseguia se lembrar daquele homem nu, com o corpo totalmente sem pelos, praticamente um deus grego. Recordava-se das conversas que tiveram. Estava usando em seu pescoço o colar com o pingente de concha que ganhara de presente do príncipe das águas. Queria reencontrar aquele Ser de Poder e perpetuar aquela amizade, mas não tinha certeza de que Sol iria aprovar. Após o pequeno momento de nostalgia, entristecera-se. No quarto havia um homem bêbado e violento, que não tinha certeza se amava realmente. Logo a banheira estava cheia de pérolas.

Suas energias estavam revigoradas pela sua magia noturna, mas mesmo assim queria dormir. Era no sono que se esquecia por um breve momento de suas preocupações e aflições. Não saiu da banheira para dormir. Ali mesmo dormiu, debaixo da água, sem precisar respirar. Seu cabelo agora flutuava na água, sobre sua cabeça. Abriu os olhos e notou a janela aberta. Pôde ver a lua lá fora, que distribuía para dentro do cômodo sua luz prateada, banhando a mulher com pulsos de energia mágica. Fechou os olhos e dormiu.

Imagem representando Luna


Dayvid Fernandes - O Autor
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terça-feira, 2 de julho de 2013

Capítulo 5 - No fundo do lago

No fundo do lago
O reino todo estava esperando pela volta do rei e da nova rainha, que haveria de passar pela cerimônia de posse e benção do padre.  Nos campos verdes era possível avistar a carruagem de Lua e Sol. Uma carruagem de ouro. Sol era muito exigente quanto às suas riquezas e tudo o que possuía era sempre adornado por alguma pedra preciosa ou metal raro. 

Uma multidão de gente estava esperando o casal real nos portões do castelo. Lançavam pétalas de flores e desejavam felicidade e vida longa ao rei e à rainha.

-Viva o Rei e a Rainha! Viva! -O povo realmente parecia feliz.

No meio daquela multidão Lua conseguiu enxergar uma mulher com seios fartos e decote exuberante em um vestido escuro de camponesa. Seus olhos arregalaram ao vê-la. Flora olhava firmemente nos olhos da rainha Luna e em sua mente lançava toda sorte de maldições, desejando-lhe todo o mal.

Inconscientemente Lua apertou firme o braço de Sol, que estava acenando ao povo.

-O que há Luna, algo te incomoda? – Sol continuava sorrindo para o povo.

- Não, me desculpe, não é nada. – Sua voz baixa e preocupada a delatava.

O casal acenava e sorria para o povo, que lançava pétalas e flores sobre o caminha da carruagem. A rainha olhou para trás e lá estava ela, tinha certeza! Era Flora que estava ali com um sorriso malfazejo em seu rosto. O povo gritava de felicidade pela rainha.

A cerimônia de posse não demorou muito. Lua estava muito feliz, já que iria ajudar o povo plebeu. Foi coroada com sua coroa de ouro e pedras preciosas. No salão do Trono muitas pessoas sorriam para a rainha.

Ao término ouve um grande almoço real. Reis, rainhas, príncipes, nobres e pessoas de cargos importantes de todas as redondezas estavam naquela festa, e traziam consigo presentes como perfumes, joias etc. Lua não ligava muito para presentes. Ela se doava mais do que gostava de receber. Não saia de sua cabeça a imagem daquela víbora psicopata. O que Flora ainda estava fazendo em seu reino? O que estaria ela planejando? Flora não fora convidada para o casamento, mas mesmo assim apareceu e ainda trouxe consigo barris de vinho. Era bem provável que eles estivessem envenenados. Flora gostava de trabalhar em surdina, não seria capaz de um escândalo desses.

Todos os nobres se reuniram em uma enorme sala. Uma mesa gigante se colocava ao centro do lugar. Janelas se colocavam ao alto do salão. A mesa era tão grande que dispunha de aproximadamente cinquenta acentos macios. Os nobres de outros reinos admiravam a beleza e riqueza do castelo do rei anfitrião. Havia muita comida e muito vinho, a principal bebida dos nobres naquele reino. Os criados se colocavam ao redor da sala, sempre prontos a repor os alimentos na mesa e repor as bebidas nas taças de seus senhores.

-E então Majestade Sun, está feliz com o seu casamento? – um príncipe do Reino do Sul sorria enquanto bebia uma taça de vinho tinto.

-Estou muito feliz! Eu amo minha esposa. Sei que não é costume dos nobres, este tipo de casamento. Mas Luna me encantou desde o primeiro dia que a vi e pretendo fazer de tudo para que ela seja feliz. – Rei Sun falava com voz firme enquanto se dirigia a todos os convidados.

-Eu serei uma ótima rainha– com sua graciosidade a rainha Luna falava de pé-, e honrarei a casa de meu marido, o rei Sun. Serei uma ótima rainha para meu povo. Proponho um brinde para o Reino do Sol!

Todos se levantaram com suas taças de prata e brindaram! A comilança e bebedeira prosseguiu a tarde inteira. A maioria dos homens ficou à mesa bebendo vinho e conversando sobre mulheres, guerras e impostos, enquanto as mulheres se reuniram em outra sala para beber os chás preparados com ervas do campo. Era uma sala redonda com as paredes lotadas de janelas grandes com vidros coloridos. Ao seu centro uma mesa, também redonda era circulada por várias cadeiras estofadas no tom vermelho e de espaldar alto.

- Rainha Luna. O povo plebeu deve estar muito instigado por ter uma plebeia no trono! – A Rainha Bethany, do Reino do Oeste falava em tom irônico.

Lua amava os humanos, mas simplesmente não suportava alguns deles, principalmente os nobres e clérigos, que geralmente se achavam superiores.

-A nobreza está no coração de quem a possui, rainha. - Sorriu falando, enquanto levava a sua pequena xícara à boca.

Bethany levantou as sobrancelhas, porquanto não acreditava que uma simples plebeia possuía aquela sabedoria. As outras rainhas deram risinhos, pois de todas elas, a mais insuportável era aquela rainha mesquinha.

-Vejo que você é uma mulher muito sábia – Susie, rainha do Oeste falava -, espero que seu rei aproveite esta sabedoria para governas este reino. Ela acenou e pediu que uma das criadas que estava na sala enche-se novamente sua xícara, mas dessa vez com outro tipo de chá.

-Eu também espero. – E sorriu para todas as rainhas naquela sala, que passavam de cinco. Lua era a mais nova delas e também a mais encantadora. Era invejada pelas outras rainhas, pois era bela, jovem, sábia e muito bem educada por ser uma plebeia, sem contar que seria a mais rica. O Reino do Sol era o mais rico de todos. Lua quis mais chá, mas encheu por si mesma a sua xícara.

Mais tarde, Luna já estava se cansando daquela ladainha fútil que as outras rainhas conversavam e então resolveu pegar um cavalo e ir cavalgar pela floresta.

-A senhora vai sair milady? – o jovem cuidador dos cavalos dizia – Quer que eu lhe arranje um guarda?

O estaleiro do rei era imenso, possuía centenas de cavalo. Cavalos de guerra, cavalos de passeio, cavalos para jogos. As melhores raças. Eram todos bem tratados e fortes.

- Não será necessário meu jovem. – Lua falava em tom agradável com o jovem.

- A senhora tem certeza? – Ele estava desconfiado.

-Tenho sim meu jovem. Pegue essas moedas de ouro e não diga a ninguém que saí, está ok?

-Sim claro. E a propósito, a majestade está muito linda, como sempre.

Lua vestida um vestido de cor clara, próxima ao verde e exalava um cheiro de mirra muito agradável que encantava a todos.

- Obrigada pelo elogio jovem. Até mais! – E cavalgou muito rápido, parecia voar montada no cavalo.

Foi-se pelos portões de trás do castelo, não queria ser vista por todos. Aquele era um dia de festança e todos esperavam que ela estivesse na comemoração, recepcionando os outros nobres. Lua não os suportava. Estava começando a sentir saudades da simplicidade que tinha quando vivia com o povo do campo, de quando lia lendas nórdicas para as crianças pobres, de quando ensinava as moças mais jovens a costurar, de quando se disfarçava de homem para ir às batalhas e salvar vidas, de quando fazia remédios com ervas e outras especiarias para os velhos e doentes. Era praticamente uma curandeira no seu vilarejo.

O vento soprava forte aquele dia. Cavalgou por um caminho que era seguido por muitas árvores com flores na cor amarela. Mais alguns minutos e adentrou na Floresta do Sol e se alegrou com o verde das árvores e com o amarelo e laranja das folhas de algumas espécies de árvores e com o colorido das poucas flores que encontrava hora ou outra. O sol ainda brilhava no céu e a rainha raciocinou que deveria voltar antes do anoitecer, para que não sentissem sua falta. No castelo os homens ainda bebiam e o rei Sun provavelmente desmaiaria bêbado e seria levado para a cama pelos serviçais. Sol era um beberrão.

Desceu de seu cavalo marrom e acariciou-o no rosto e conversou um pouco com ele, seu poder era maravilhoso e até os animais se sentiam bem na sua presença.

- Eu não sei como você consegue passar a vida inteira carregando em suas costas largas este bando de nobres gordos e altivos. Desculpe-me por montar em você criaturinha linda!

O cavalo pousara sua cabeça no ombro de Lua, parecia entender as suas palavras. Ela trançava os dedos na clina do cavalo enquanto cantava uma canção antiga, que acalmou o animal. Quando terminou de cantar aquela musica mágica, o cavalo já estava deitado no chão e dormia. Ao se virar, notou que ao seu redor, nos galhos de arvores e no chão os pequenos e médios animais, como alces, esquilos e pássaros estavam todos a admirando. Lua riu.

A lady tomou um rumo entre as árvores e adentrou o bosque, não cantava mais, apenas cantarolava com a voz baixa, não queria chamar a atenção dos animais. Colheu alguns frutos e os colocara na sexta que trouxera. Não colheu as flores, ela não gostava de recolhê-las: o amor pelas flores estava em admirá-las e não e possuí-las. Em colher uma flor, ela morre.

Caminhou pela floresta até que encontrou um pequeno lago. Despiu-se totalmente de suas roupas e entrou ao lago. Sem querer deixou as frutas caírem dentro da água, não se importou muito. A água estava morna, ela gostou. O lugar era todo rodeado por árvores e as borboletas voavam sobre o rio. Lua mergulhou na água e desceu até o fundo da água. Com seus poderes mágicos prendeu a respiração e assim não precisou subir para respirar novamente. Abriu os olhos e passou a observar aquele bioma aquático. Havia alguns peixinhos acinzentados e outros um pouco coloridos. Aquelas águas eram muito claras e azuladas, uma maravilha da natureza.

As correntes de água acariciavam a pele de Lua. Ela começou a se conectar com a natureza e se sentiu completa, a deusa da lua adorava nadar, ela adorava os rios e o mar. Fechara os olhos naquela conexão e sentia a energia positiva fluir da água para si e energia negativa indo embora.

Lua nadava por toda a extensão do lago e, se não fosse sua forma humana, se poderia dizer que era um peixe, ou uma sereia. A ex-plebeia começara a sentir algo que, inexplicavelmente nunca havia sentido. Sentia uma conexão muito forte entre ela e aquelas águas, como se fosse a própria água, como se fosse parte integrante daquele lago. Lembrou-se do panteísmo, filosofia que considera cada indivíduo como parte de um todo, um todo que é a natureza, um todo que é o todo divino.

Parou de nadar. Sentou-se no fundo do lago na posição de lótus e ali ficou por uns dez minutos a explorar aquela coisa boa de que, em seus bilhões de anos, nunca tinha sentido. Seu corpo começou a emitir luz própria e agora ela era uma mulher de luz prateada. Seu corpo estava se transformando em energia pura, toda sua massa humana estava se transformando em energia. Aquela luz se espalhou pelo lago todo e ele parecia uma cratera de luz. A energia concentrou-se novamente no mesmo espaço e Luna voltou à forma humana.

Aquilo foi lindo. O riacho agora estava mais puro do que antes e os peixes mais saudáveis, livre de todas as enfermidades. Aquela água agora era mágica e presentearia com boa saúde aqueles que dela provassem ou nela sobrenadassem.

Lua se preocupou, porque não devia ser vista por nenhum humano em seus atos mágicos. Abriu os olhos, ainda dentro da água e olhou para cima. No alto da superfície viu uma imagem de homem. Será que ele a tinha visto transformando-se em luz? Em menos de um segundo ela viu aquele homem retirando sua camisa e sua calça e pulando na água. No próximo segundo ela se sentiu agarrada por braços grossos e sendo levada para a o alto do lago.

Quem era aquele homem branco e forte e nu que a segurava? Seus cabelos estavam na altura do ombro. Sua barba estava por fazer. Olhos azuis e profundos como nenhum outro. Seu corpo era todo esculpido, como só um membro do exército real teria. Lua olhou para sua cintura e pôde ver o “órgão de baixo” homem. Sentiu-se excitada, mas conteve-se educadamente. Mas que homem é esse que não usava roupas de baixo?

- Você está bem? Hey! Fala comigo! – O homem de voz suave como a brisa do mar, mas mesmo assim muito preocupado, olhava fixamente para o rosto da donzela e aproximava-se de seu nariz para ouvir sua respiração- Você está me ouvindo?

Lua estava paralisada diante de tanta beleza. Os braços do forte cavalheiro as circundavam pela cintura e ela deitava-se em seu colo, próxima à linha da cintura, e olhava para cima e admirando aquele rosto másculo, pele perfeita. Nem parecia a pele de um humano.

-Por que você está sorrindo, rainha Luna? – Ele a conhecia muito bem.

-Me desculpe Mar, é que eu estava meditando e às vezes fico meio desligada. – Na verdade ela estava anestesiada pelo poder de encanto do rei dos mares, o Mar. Um homem belo, charmoso, sereno e muito sensual. Em muitas culturas ele era cultuado como o deus Netuno ou Posseidon. Mas ele não era um deus e nem queria ser. Era um benfeitor dos humanos.


Lua na Beira do lago


- Você me assustou. Eu estava passando pelas redondezas para checar a pureza dos lagos e vi uma mulher no fundo da água. Não tinha noção que era você.

- Você bem sabe que nós podemos ficar de baixo da água sem respirar. – Ela ainda sorria.

-Eu não sabia que era você. Mas, e a propósito, você está nua. – Mar virara o rosto para o lado para não ficar encarando o corpo da mulher. Levantou-se rapidamente e vestiu sua calça preta. Lua não parava de olhar cada movimento dele - Você não vai se trocar?

Só agora Lua se dera conta de que ainda estava sem roupas, não estava prestando atenção no que Mar dizia, atentava-se apenas ao seu corpo. Pulou novamente na água. Suas roupas estavam do outro lado da margem.

-Você pode pegar minhas roupas, fazendo favor?  - Ela estava muito envergonhada. Era casada, não podia se entregar assim aos prazeres carnais, mesmo sendo divinos e concedidos pela Deusa.

Mar, pelo contrário, ria sem parar, ele não conseguia não rir. Era um homem muito bem humorado.

- Pego sim. Mas não se preocupe, eu não fiquei te olhando.

Ao entregar as roupas para a agora rainha do Reino do Sol na Terra, virara-se de costas enquanto ela saia do lago e apanhava as roupas para se vestir, mesmo molhada.

- Como vai o casamento com o Sol? – Ele falava de costas- Eu adorei a festa de vocês, havia muita comida, bebida. Você estava linda.

Mesmo de costas, Mar podia usar seus poderes mágicos para ver tudo o que queria. Enquanto conversava com Lua, fechou os olhos e visualizou em sua mente aquela linda mulher a se vestir. Viu que as curvas dela eram perfeitas. Possuía uma cintura fina e coxas grossas. Seus seios, apesar de não serem tão fartos como os de Flora, eram exuberantes e muito belos, sendo atração para qualquer homem. Viu sua virilha lisa, “a caixinha de joias” como diziam alguns homens bêbados. Em sua mente ele ria, pois achava a situação engraçada. Ele também a desejava, mas ela era uma mulher comprometida, tanto no Mundo Mágico como no Mundo dos Simples. Devia se contentar.

- Ah! Vai bem obrigado. – Lua não falara a verdade – Estou pronta, pode se virar. – Ele se virou para falar de frente com ela – Obrigado pelo elogio. Todas as roupas cerimoniais foram tecidas pela nossa melhor alfaiata e nossa comida foi muito dedicadamente preparada pelos melhores cozinheiros do reino.

- Bem percebi. Estava tudo muito bom – os olhos azuis de Mar se chocavam com os de Lua enquanto eles dialogavam – e todos gostaram. Onde passou a sua segunda lua de mel, Lua? – aquela frase soou engraçada.

- Fomos para o Reino do Sol no Mundo Mágico.

Os dois se puseram a caminhar. Conversavam e se relembravam dos velhos tempos, quando muitos humanos ainda criam que eles eram deuses, e os serviam. Ainda naquela época, alguns poucos ainda tinham essas práticas mágicas antigas, mas eram poucos, estavam sendo caçados, principalmente as bruxas e bruxos, que não eram pessoas más. Os Seres de Poder, por piedade, ajudavam quem os clamava nos rituais mágicos.

- Bons tempos, Lua! Eu adorava ser chamado de Posseidon pelos gregos. – Mar dizia para sua amiga dos velhos tempos.

- Verdade. As minhas representações lunares ainda têm alguns seguidores. Porém eu não me preocupo com isso, nunca me preocupei.

-Sempre muito amorosa com os humanos... Digna de uma deusa!

- Não blasfeme assim, Posseidon! – Lua disse, e caíram na gargalhada.

Os dois riam como amigos que se conheciam há anos. Bom, eles se conheciam há milênios, mas nunca foram tão próximos. Eles se sentaram no meio do bosque que ainda estava sendo iluminado pelo sol que, em poucas horas estaria se pondo.

- O que você tem feito Lua? – Mar puxava conversa com aquela linda dama.

-Ah... O de sempre. Tenho realizado meus rituais lunares para mudança de fase da lua, tenho variado o brilho dela, influenciado na colheita, vegetação, vida na Terra etc. E você? – Lua estava interessada, nunca tinha parado para ter essa conversa com aquele simpático homem – O que tem feito?

- O de sempre. – Ele olhava para baixo quando respondeu, e levantou a cabeça e fitou-a com seus olhos azuis. Dentro daquele olhar parecia haver um oceano inteiro de imensidão.

- O de sempre, o quê? Perdoe-me, eu nunca parei para refletir o que você faz, na verdade eu nunca parei para pensar em...

- Em mim? – Agora ele estava um pouco mais sério. Mas não uma seriedade ruim.

-Não... É que... – A rainha se encabulou um pouco.

- Tudo bem. Temos bilhões de anos, mas eu compreendo que você não me conheçadireito. Você esteve sempre tão envolvida com os humanos, se doando tanto que nunca parou para pensar em outra coisa.

Lua não respondeu, apenas olhou para Mar, ele se mostrava tão compreensivo. Seu rosto corava e um sorriso esboçou.

- Talvez você precise me conhecer um pouco mais. Venha! – o homem aquático segurou sua mão e puxou-a para o voo.

-Aonde vamos? – Lua gostou da ideia.

– Você verá. - E piscou

Em um segundo ambos estavam invisíveis. Com um pequeno salto estavam voando sobre a floresta. Lua não estava acostumada a fazer aquilo. Estava habituada a agir como os humanos, estar entre eles, acostumada em ser eles. Olhou para baixo e viu o imenso carpete de copas de árvores em tons de verde. Via alguns pássaros voando mais abaixo. Tudo estava lindo até que...

-Ai! – Luna fora atingida por um pássaro preto bem no alto de sua cabeça. Viu algumas penas voando e o pássaro caindo, logo abaixo dela.

- Esqueci que estamos invisíveis, precisamos ter mais cuidado. – Mar alertou-a – Onde você esta indo? – Ficou sem resposta.

Lua descia em espiral na direção do pássaro preto que caia. Ela estava aflita de que ele tivesse se machucado. Mesmo com sua cabeça latejando de dor pela pancada, ainda pensava na dor do pequeno pássaro. Rapidamente conseguiu apanhá-lo. Subiu no voo para o lado de Mar. O pássaro estava apenas desmaiado.

Continuaram voando por um pouco de tempo. Conversavam pouco, apenas se observavam. Seus olhos é que conversavam, se falavam por sorrisos e piscadelas. O rei dos mares observava como o vento soprava nos cabelos loiros da realeza da lua. Era como aquela cena do filme Titanic, ela estava simplesmente linda. Seu vestido esvoaçava-se no vento e em algumas ocasiões conseguia flagrar as coxas torneadas da mulher que voava ao seu lado. Ela segurava o pássaro preto em seus braços. Ele não entendia por que ela ainda o abraçava, bastava-lhe fazer um feitiço de cura e estaria curado. Mas logo ele entenderia que Lua, mais do que curar o pássaro da dor que sentiu pelo baque, queria compartilhar com o pobre animal um pouco de carinho, como forma de perdão por atingir-lhe.

Lua também observava Mar. Era até engraçado e ria de vez em quando. O rei das águas devia levar-lhe para mergulhar e não para voar, parecia meio irônica a situação. Ela não entendia por que ele estava voando com ela. Olhava para ele e via seu cabelo escuro balançar em seu ombro. Conseguia sentir seu cheiro amadeirado, provavelmente algum perfume vindo do campo. Não, o Mar não tinha cheiro de peixe, pelo contrário, era um homem muito cheiroso e vaidoso. Principalmente quando estava passando pelo Mundo dos Simples. Apesar de que não caminhava por terra com muita frequência, passava a maior parte do tempo sob o mar ou sobrevoando-o, protegendo as baleias da caça. Pobres baleias. Era uma raridade esbarrar com ele andando por ai.

Os dois amigos desceram no alto de uma montanha que Mar indicara. A “veterinária de coração” segurava o pássaro entre seus braços. Seu vestido verde claro já estava seco. Sentaram-se na beira de um penhasco. Lá em baixo havia o mar: eles sobrevoaram uma boa parte da região. Podiam teleportar-se, mas preferiram voar, queriam passar um tempo junto para conhecer-se, como amigos, é claro.

-E então, por que me trouxe aqui nesta montanha? Achei que me levaria para o fundo do mar. – Lua dava um beijinho no bico do pássaro preto que já estava acordado pelo efeito do beijo mágico.

- Eu quero te mostrar o mar, a minha casa, daqui de cima. Gosto muito desta visão. Parece não ter fim – Ele esticara um dos braços e apontara para o grande oceano.

- Sua casa? Mas que interessante.

- Sim, eu passo a maior parte do tempo lá em baixo, quando não estou sobrevoando a imensidão das águas. – Ele falava com orgulho.

-Mas e o seu Reino no Mundo Mágico?

- Eu quase não vou lá. Na verdade quem fica mais no meu castelo azul são as sereias. – As sereias de verdade têm pernas sim, quando querem e enganam a muitos homens e mulheres quando querem manter relações sexuais. São aquelas mulheres que você só encontra uma vez na vida e tem a sua melhor noite de prazer e paixão. Aquelas lindas mulheres que na manhã seguinte terão desaparecido e, levado consigo a sua esperança de encontrar uma mulher tão boa quanto elas. Mas você poderá vê-las novamente, em seus sonhos.

- Pelo jeito você gosta mesmo do que faz. Não é em vão que te chamam de homem peixe! – Ambos riram. - O que você faz exatamente? – Lua ainda estava curiosa.

- Eu salvo os animais dos homens e salvo os homens da fome. Mantenha a vida da maneira que me é possível.

-Conte-me mais sobre isso – Lua se confundiu um pouco.

- Eu sustento o ecossistema aquático em funcionamento. – Mar ficara de pé enquanto falava sobre seus afazeres e Lua fitava-o atentamente – Acontece que os homens precisam comer e também comem peixe. Nem todos têm a benção de serem vegetarianos. Mas eu também protejo os peixes e outros animais da carnificina.

- E como você faz isso? – Lua estava achando aquele diálogo interessante.

- Quando os pequenos, médios e grandes barcos lançam suas redes, sou eu quem conduz os cardumes de peixe para as redes, mas de forma apropriada. Eu não permito que os homens abusem da natureza marinha.

-Você os leva para a morte?

- Eu não vejo assim. A natureza tem um ciclo natural, e sou eu que balanceio isto em tudo que é concernente ao mundo dos mares e rios. Fico muito triste em ter que virar alguns barcos cujos donos querem extrapolar em sua “cota” de pesca.

- Realmente... – Lua se entristeceu um pouco e acariciou o pássaro preto que estava em seu colo. Ele estava gostando daquele carinho.

- Eu faço mais! Ajudo os animais a se procriarem! – Mar se sentou novamente do lado de Lua, só que dessa vez mais próximo a ela. Lua achou aquilo um pouco estranho- Na época do acasalamento de cada espécie, inclusive de pinguins, leões-marinhos e baleias, eu os conduzo para as regiões mais apropriadas para este objetivo. Ou você achou que os animais se guiavam pelas estrelas para encontrar terras distantes para a procriação! Teriam eles bússola?

- Eu imaginava que você tinha alguma coisa a ver com isso. – Lua olhava para o horizonte.

-Eu conduzo as pequenas tartarugas para o mar da praia, mas nem todas sobrevivem. Eu tenho as mãos atadas quando tenho que deixar o ciclo da natureza acontecer.

-Você é quase um ecologista! – Lua olhava para o pequeno voador de penas. – Você tem muito trabalho a fazer, Mar, pelo jeito!

-Tenho sim – Mar olhava para o longe – e esta noite terei que salvar umas baleias que estão passando perto da costa. Você não quer me ajudar?

- Sinto muito, mas não posso. Creio que à esta hora – o sol estava se pondo - a festa no castelo deve estar terminando e, meu marido vai notar minha ausência. Seria grosseria eu não estar na minha própria festa.

- Ele não sabe que você está aqui? – Mar perguntou curioso.

- Não, eu saí escondida. Não suporto os nobres e toda aquela bajulação! – Lua realmente não gostava de bajulações falsas.

-Bom, é uma pena, eu estava gostando muito de conversar com você.

-Eu também, mas creio que Sol estará bêbado e ficará zangado se eu não voltar a tempo para despedir-me dos outros reis e nobres de sangue azul. – ela fez cara de nojo - Afinal, estão festejando minha coroação como Rainha do Reino do Sol, aqui na Terra. – Lua não parecia muito entusiasmada.

-É... Realmente você deve estar lá. Isto é, se você realmente quiser! – Ele se aproximou um pouco de Luna para falar-lhe - Nunca faça nada contra sua própria vontade. – O cavalheiro das águas lhe aconselhava em voz baixa.

- Eu sei, mas não quero brigar mais com o Sol!- Lua parecia um pouco triste agora.

- Você quer conversar sobre isso? – Ele realmente era um homem muito gentil.

- Não, obrigado... Eu realmente preciso ir.

- Ok, mas antes de você partir, quero te dar uma coisa.

Mar tirou do bolso de sua calça justa um colar simples. Era um cordão prateado com uma concha afunilada como pingente.

- Toda vez que você quiser me ver ou precisar de minha ajuda, aperte esta conchinha com firmeza e pense em mim que eu aparecerei. – E entregou aquele amuleto nas mãos de sua nova “amiga”, que olhava seu novo amigo com muito apreço.

-Muito obrigado Mar, você é realmente um homem de grande distinção. Mas eu sou um Ser de Poder muito forte e sei me cuidar. Estou em um corpo feminino... Entretanto sou forte! Agradeço por sua gentileza, seremos bons amigos.

Lua virou-se e foi até outro ponto da montanha. Guardou o colar entre os seios e levantou o pássaro preto ao alto. O pássaro voou para muito alto e se foi. A mulher de vestido longo e cabelos lisos olhou para traz com sua feição doce e acenou para Mar. Em seguida ela já não estava mais ali. Havia se transportado.

Mar pulou do penhasco para dentro do Oceano. Enquanto nadava no fundo do Oceano e se desviava dos animais aquáticos, pensava em como gostara de conhecer Lua mais de perto. Já a tinha visto em seu casamento e se encontrara com ela algumas vezes, mas nada tão próximo assim. Naquele dia, a primeira vez que a encontrou informalmente, ela estava nua: bom começo, ele pensou! Nunca pensou que a veria tão desnuda daquela forma, ela era uma mulher lindíssima. O cheiro adocicado da mulher ainda estava gravado em sua mente. Não, ele não estava apaixonado, não podia estar. Mas sua fascinação pela lua, o satélite natural, era antiga. Toda noite a via pôr-se, enquanto o dia nascia. Preferia a lua ao sol. A lua era serena e tinha uma luz clara e prateada, era mansa, como ele. Mar estava disposto a continuar vendo Lua. Sabia que ela tinha compromisso com outro homem, mas não custava nada serem amigos. Estava decidido.

Dayvid Fernandes - O Autor
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