Os Planos de Flora
Passaram-se dois dias desde que o casamento
entre o Rei Sun e a plebeia Luna ocorreu. Para o povo, os dois haviam viajado
para outro reino para passarem alguns dias de férias e aproveitarem as núpcias.
O castelo estava sob a supervisão de um humano da confiança de Sol, Darwin, um
membro da cavalaria de guerra do reino.
Os moradores daquele reino estavam felizes com
a diminuição dos impostos sobre os alimentos e moedas de ouro, prata e bronze.
Com a ascensão de uma plebeia ao trono, os camponeses estavam na esperança de
que tempos melhores viriam.
Flora sabia que os pombinhos estavam em lua de
mel e por isso mesmo, sem se preocupar com os olhos de Lua, passeava pelo reino
do Rei Sun. A mulher caminhava com um vestido simples, mas muito justo entre os
camponeses e comerciantes. Seus seios saltavam para fora em seu decote apertado
e seus braços finos não se escondiam, eram expostos pela manga curta do
vestido, sendo cobertos apenas os ombros por um pequeno tecido marrom, que
circundava seu pescoço.
Flora havia transado, dois dias antes, na
noite do casamento, com um camponês jovem que se embebedara na festa, pois
estava amargurado. Naquela noite, sua namorada, e pretendente a casamento, não
pôde lhe acompanhar na festa de casamento do rei: sua mãe estava doente e
precisava de seus cuidados.
Ao caminhar pelas ruas de terra, lançava
olhares semicerrados para os jovens, que logo se excitavam, encantados pela
sensualidade de Flora. Logo, ela já estava sendo cobiçada por todos aqueles que
lhe avistavam, inclusive por algumas mulheres que a invejavam. Alguns vinham
lhe trazer flores e lhe perguntavam pelo nome, mas ela nunca lhes revelava o
verdadeiro.
- Ahsley! Este é meu nome, lindo rapaz. – Ela
poderia possuir todos os homens que quisesse, mas tinha um gosto refinado.
Daquele pequeno povoado apenas lhe interessava o jovem Selene e havia algo mais
que lhe chamava a atenção naquele homem.
Flora não estava caminhando por aquelas bandas
apenas por falta do que fazer. Ela tinha muito que fazer, tinha planos a serem
traçados naquele dia. O que será que se passava por seu coração maligno?
Caminhava muito lentamente, até que avistou seu desejado. Selene não se
lembrava de Flora. Na manhã seguinte ao encontro com a mulher mágica, acordou
nu no meio da floresta, por um menino que o cutucava com um graveto para que
acordasse.
- Senhor! Senhor! Acorde. – O menino tentava
acordar o homem pelado.
-O que... Onde estou?... Oh! Meu Deus, eu
estou nu! O que estou fazendo aqui? – Selene realmente não tinha noção do que
havia acontecido na noite anterior. Flora lhe lançara um feitiço de perda de
memória.
-O senhor está na Floresta do Sol. – O menino,
de uns doze anos ria discretamente.
- Vire-se menino! Vou me vestir.
Selene se vestiu e pagou uma moeda de prata
para que o menino não contasse a ninguém sobre o que vira. O menino foi embora
contente, pulando entre os arbustos e manteve o segredo guardado.
Flora era boa com feitiços da Tradição Antiga.
A Magia foi trazida ao Mundo dos Simples pelos Seres de Poder, mas nem todos a
praticavam com constância, ela sim. Lua também é uma ótima bruxinha. Estas duas
já foram duas grandes amigas, até que Sol se apaixonou por Lua. Flora não
entendia que não se brinca com os mistérios do coração. A dama da lua não teve culpa
por ser fisgada pelo amor de Sol - um amor violento e possessivo - mas, a única
coisa que Flora queria era se vingar.
O dia estava quente e fazia sol. Há alguns
dias não chovia. Os camponeses se reuniam na rua para venderem e trocarem seus
produtos por moedas ou outras iguarias. Havia muitos homens e mulheres que
cruzavam a rua a todo o momento. As casas de madeira eram simples e o cheiro do
local era de verdura estragada e de peixes, já era um pouco tarde e os melhores
alimentos já haviam sido vendidos.
Por enquanto, Flora se ocupava com seus
prazeres sexuais com os simples. É fato que eles eram muito frágeis, mas estes
eram possuidores daquilo que ela considerava uma benção concedida pela Grande
Mãe: o sexo. Flora sentara-se em uma caixa de madeira anteriormente usada para
guardar tomates de um comerciante. Ficara por alguns minutos observando o
camponês que cobiçava. Ele usava calças simples, de cor marrom e estava sem
camisa, expondo seu corpo com um pouco de pelo no peitoral.
Enquanto o observava Selene empilhando algumas
caixas vazias, Flora imaginava tudo o que ainda pretendia fazer com o homem
alto que possuíra dias antes. Levantou-se. Já havia o observado bastante e
pretendia poder observá-lo ainda por muito tempo. Iria falar com ele. Caminhou
pela pequena rua e antes que se aproximasse para falar com o homem musculoso, uma
jovem morena aproximou-se dele com um embrulho nas mãos e beijou-o. O coração
daquele homem era habitado por outra mulher e ele envergonhava-se muito por ter
acordado nu no meio da floresta: pensara que havia possuído alguma mulher, mas
não conseguia lembrar-se de nada. Só de pensar que podia ter traído sua amada,
sua barriga gelava, não queria magoar Carrie. Ele a amava.
Flora, apesar de não conseguir ler a mente do
rapaz, logo percebera que seu coração era de outra mulher. Enfureceu-se. Se ele
realmente amasse aquela camponesa, não conseguiria usar magia para fazer com
que ele a esquecesse. Aquela moreninha esguia já estava impacientando-a e ela
tinha que dar um jeito de tirá-la de seu caminho. Flora podia ter qualquer
homem em suas mãos quando quisesse, bastasse usar seus poderes mágicos,
contudo, o fato de ele amar outra mulher a irritava, ela queria ser venerada. Sua
magia não funcionaria se ele estivesse apaixonado por outra pessoa.
Ao olhar para trás viu que Carrie estava ao
lado de Selene e dava-lhe um beijo muito romântico. Trazia em sua mão uma
vasilha com pão feito na hora, para seu amado. Carrie era uma mulher morena com
os cabelos enrolados em grandes cachos que caiam sobre os ombros pequenos. Tinha
estatura média e a pele queimada do sol. Possuía olhos escuros e demonstrava
realmente amar aquele homem. Entretanto, ela estava meio chateada por causa de
sua mãe que não melhorava da misteriosa febre que a atacara. O pai de Selene
não era tão velho, mas a preocupação com sua esposa doente tirava-lhe a
disposição.
Flora franziu a sobrancelha ao ver os dois se
beijando. Em sua mente Flora elaborava um plano muito maligno para arrebatar
aquele homem de vez.
Dayvid Fernandes - O Autor
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